Diário de uma mulher,esposa,mãe,dona de casa...enfim...de um ser humano único...rsrsrsrs...
Meu blog também é bauzinho de guardar coisas que acho lindas,interessantes e que vale a pena recordar!
Início do blog:13/04/2009...só felicidade!!!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO!


Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.
Pra quê televisão? Pra quê rua? Pra quê droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
- Vamos marcar uma saída!... - Ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas. Pra quê abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...
Que saudade do compadre e da comadre!


José Antônio Oliveira de Resende
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.


Fonte e imagem:
Trouxe do blog:http://arcadoconhecimento.blogspot.com/...passa lá...vais te encantar que nem eu!
OBRIGADA!

6 comentários:

SolBarreto disse...

"Velhos tempos, velhos dias"
Ahhh como seria bom se a vida continuasse assim nesta parte ne, essa camaragem, esse carinho entre as pessoas...

meus instantes e momentos disse...

passando para te desejar um feliz final de semana.
gosto de voltar aqui...belo post
bjs
Maurizio

Unknown disse...

crista , hj pela primeira vez entrei no seu Blog, nossa..... o qto eu estava perdendo!!! Aproveitei e chamei minha mãe para te conhecer desde o orkut até aqui...foi ela que me encentivou a visitar o seu Blog, pq eu não tenho esse hábito. Nossa ADORAMOS! Principalmente esse texto lindo que remete minha mãe ao tempo dela, o mesmo que o seu, uma vez que vcs 2 têem a mesma idade! Ela até me pediu pra imprimir . Minha mãe amou td de vc, sua simplicidade e seu carisma. Há mto tempo que ela não tem contato com pessoas assim...ela até pensou que não existissem mais. Portanto vc tem mais uma nova fã...minha mãe Denise!

Glamorous like a clicquot. disse...

por isso que eu te falo......como eu queria ser das antigas. Tecnologia só veio pra estragar os sentimentos.......pelo menos é o que penso, não valeu em nada, valeu apenas para separar as pessoas umas das outras e fazê-las esquecer da essência de carinho, amor, gratidão......

ai.....como eu queria que tudo fosse tão antigooo :)

Unknown disse...

Nada se assemelha à alma como a abelha. Esta voa de flor para flor, aquela de estrela para estrela. A abelha traz o mel, como a alma traz a luz.

Victor Hugo

Bom Domingo e beijos perfumados prá ti.

diariodumapsi disse...

Maravilhoso texto, me parece que nesse éramos mais gente, mais humanos, o ser humano vem perdendo a sua humanidade!