Rio de Janeiro, 02 de agosto de 1985.
Nascia a minha menina, com seus dois quilos e novecentos gramas e quarenta e oito centímetros. Estatura máxima que esticando daqui e dali, o pediatra conseguiu
chegar...
O choro foi discreto e rápido. Logo já estava envolvida no manto, de onde mal conseguíamos enxergar a pele rosada e enrugada. Tranquila e serena seguia tentando
adaptar-se ao "Admirável Mundo Novo". Continuava um bebe de pouco choro. Nem mesmo na hora da fome ouvia-se algum gemido ou reclamação. Contentava-se com os
dedinhos que chupava vigorosamente. Antes do primeiro aninho, já andava, porém, a fala tardava chegar. Depois de balbuciar as primeiras palavras, desenvolveu uma
tagarelice curiosa, indagativa e infinita ... tinha uma pronúncia carregada no "R", como se estrangeira fosse. E o tempo se encarregou de fazer passar tão rápido,
esses primeiros lindos meses. E vieram as muitas fases...e aquela tranquilidade e quietude costumeiras foram perdendo espaço para uma personalidade forte e
decidida. Com apenas três aninhos, decidia qual roupa usar. Com o requintado gosto que lhe era peculiar, dentre tantas opções de roupas, escolhia uma blusa
xadrez com uma calça listrada...e ai de quem tentasse fazê-la mudar de ideia...E esse temperamento forte tornou-se um companheiro de caminhada. E de fase em fase,
eis que chega a tão esperada e difícil "adolescência". É uma fase em que uma terapia familiar é bem vinda. Para pais e filhos. Houve momentos em que eu já não
sabia que melhor papel caberia a mim; se educadora, psicóloga, chata, repressora, ou simplesmente mãe, papel para o qual me achava melhor preparada. E descobri
que essa foi apenas mais uma etapa ... e todas as mães passam por ela. E mãe sabe das coisas. Com ajuda do meu instinto materno, faz tempo que descobri também,que
essa geniosa leonina de sangue quente é dona de um enorme e bondoso coração. Descobri que ao amansar a "fera" rs , encontramos uma pessoinha
linda,sensível,inteligente, que se atira, se entrega, ama, chora, cai, levanta e que dá muitas gargalhadas, também. Tenta fazer valer a pena estar aqui,
aproveitando o melhor dos presentes que é viver intensamente cada dia, cada momento. Sei que em seu coração há espaço para meio mundo, para a família, amigos,
todos os bichinhos desamparados...e quem mais chegar...
Talvez, essa sua sede de vida tenha sido um dos meus maiores receios. E ao mesmo tempo em que pedia-lhe cautela, desejava também, secretamente, que fosse fundo
em tudo, para que um dia, tivesse uma história para contar, com seus erros e acertos, assim é a vida. E, hoje, a menina é mulher feita. Segue em seus anos
balzaquianos, conquistando seu espaço e nos enchendo de orgulho a cada vitória. Mas ela sabe que colo de mãe é eterno. E que não importa quanto da sua história
ela já tenha contado...
Sempre que cair, machucar e doer, eu passo merthiolate e assopro...
Elenice Bastos.
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