A única língua que estudei com força foi a portuguesa.
Estudei-a com força para poder errá-la ao dente.
A língua dos índios Guatós é múrmura:
é como se dentro de suas palavras corresse um rio
entre pedras.
A língua dos Guaranis é gárrula:
para eles é muito mais importante o rumor das palavras
do que o sentido que elas tenham.
Usam trinados até na dor.
Na língua dos Guanás
há sempre uma sombra do charco em que vivem.
Mas é língua matinal.
Há nos seus têrmos réstias de um sol infantil.
Entendo ainda o idioma inconversável das pedras.
É aquele idioma
que melhor abrange o silêncio das palavras.
Sei também a linguagem dos pássaros
– é só cantar. "
Manoel de Barros
Fonte e imagem:Presente da amiga Bernadette,pelo orkut...Obrigada!
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